terça-feira, 3 de novembro de 2015

MANO MANÉ, "ME DESCULPE ENTAO"!




[Conhece antecedentes do Estatuto do Líder da Oposição?]
Mano Mané, o edil de Quelimane, foi citado por um semanário como tendo declarado que discutir o Estatuto do Líder da Oposição “é como um médico ou enfermeiro que, vendo borbulhas na cara do paciente, manda-o ao dermatologista para que pegue pomadas e tome conta das borbulhas, esquecendo-se das causas que as provocaram”. Quais as causas? Está feita a pergunta.
“(…) Manuel de Araújo disse que no lugar de aprovar, às pressas, estatutos de líder da oposição, simplesmente para resolver um conflito pós-eleitoral, é preciso enfrentar com frieza o que chama de paradoxos da democracia moçambicana, tais como o ‘the winner takes all’, ou seja, o vencedor leva tudo, o sistema de governo, bem como a própria natureza da democracia que resultou de um processo violento de luta armada, entre outros”. Será verdade que o conflito é pós-eleitoral? Por quê?
Em discurso directo, diz, de acordo com o mesmo semanário: “É uma lei que foi feita por cima do joelho, com muitas imperfeições, é como um paracetamol que foi administrado ao doente, não para curar a doença, mas para minorar a dor do paciente”. Quais os elementos fiáveis que suportam as declarações de Manuel de Araújo? Não será retórica com recurso a argumentos não verdadeiros? Há que testar!
Mano Mané, “me desculpe então”, mas não sei onde se encontrava em 1994, antes das primeiras eleições multipartidárias. Se estava em Moçambique, parece que a sua intervenção sobre a história do Estatuto do Líder da Oposição é que foi feita em cima de joelho. Sublinho: as declarações do edil de Quelimane é que foram feitas em cima de joelho, transformando reivindicações anteriores às eleições, já desde 1994, em conflito pós-eleitoral.
É que o Estatuto do Líder da Oposição tem uma história anterior ao ora aprovado e penso que não deveria ignorar esse facto, por ser, de facto, um facto. Mas, o que se sabe do novo discurso da Renamo, a guerra de 16 anos era pela democracia, que a tendência socialista ou comunista da Frelimo não garantia, sem ser necessariamente pela partilha do poder, porque a ser assim, partilha do poder, é suposto que o Acordo de Nkomati, assinado em 1984, poderia resultar nessa partilha entre a Frelimo e a Renamo, se calhar sem eleições nenhumas. Disse isso, certa vez, Teodato Hunguana.
A haver imperfeição, não tem nada a ver com os argumentos de Manuel de Araújo. Por isso, é má retórica de Mano Mané, porque apela a argumentos que não verdadeiros argumentos, não pelos seus objectivos, voltando a citar o professor de Filosofia, Paulo Jorge Domingos de Sousa, em “A Filosofia faz-se pensando”.
Insisto: o problema do debate frequente em Moçambique, e as entrevistas curiosamente a um determinado grupo de cidadãos, de forma periódica, peca por veicular muitas imperfeições, como sucede com o argumento do edil de Quelimane, beneficiando da existência de muitos incautos, consumidores do fast food disponível nos takeamweys. De Araújo falou e isso foi tomado como uma verdade! Poucos avaliam os seus argumentos.
Afinal quais são os elementos que são apresentados por Mano Mané, como seus argumentos ou premissas para chegar àquela conclusão? Simplesmente os resultados das eleições de 2014. Esta conclusão assemelha-se a retórica que no período de 2013 a 2014 estimulou a morte de pessoas no troço Save-Muxúnguè – partia-se de argumentos que não eram verdadeiros argumentos sobre as causas da violência na Estrada Nacional nº 6.
Ora, o problema de Afonso Dhlakama e, se quisermos, da Renamo, remonta ao período anterior às eleições de 27, 28 e 29 de Outubro de 1994. Afonso Dhlakama fez várias reivindicações, duas das quais referentes à “formação de um Governo de Unidade Nacional e a existência de cargo de vice-Presidente de Moçambique”.
O vice-Presidente, que Dhlakama afirmava ser uma questão de emenda constitucional, seria o segundo candidato mais votado. Creio que, pelas contas, ele adivinhava que seria o segundo mais votado, sobretudo pelos argumentos apresentados, citados adiante.
Raúl Domingos sabe disso e creio que Eduardo Namburete, que o conheço e respeito à semelhança do Mano Mané, nisso de respeito [estive em Quelimane com Manuel de Araújo, volto a dizer isso, antes de ser edil, mas por pouco tempo e não deu para muita conversa, eu não companhia de jornalistas que ele conhecia], numa situação normal também estaria informado sobre tais eventos. Mas, como dizia, o nosso debate tem muitas imperfeições e se baseia em opiniões não devidamente fundamentadas ou documentadas: fast food à venda nos takeaweys!
O que sucedeu antes das eleições de 27, 28 e 29 de Outubro de 1994? Afonso Dhlakama é citado pelo semanário Domingo, na sua edição de 27 de Março de 1994, a apresentar pretensão do GUN: “Eu já abordei esta questão do Governo com o Presidente Joaquim Chissano, isto é, eu pedi uma audiência porque esta foi sempre a minha posição, mas não aprofundamos muito, mas fiquei com a impressão de que parece que ele concorda comigo”.
Chissano, numa das tantas reacções, excluindo a dos seus correligionários, citado pelo Diário de Moçambique de 30 de Abril, responde: “ (…) vamos primeiro às eleições e depois quem vencer saberá como agir. Não vamos influenciar agora a vontade; temos que conhecer a sua vontade real. Não vamos para essa farsa, essa maneira de enganar o povo. Nós não somos animais para nos fazerem dessas experiências”.
Afonso Dhlakama, através da edição de 28 de Agosto de 1994 do semanário Domingo, lança ultimato, afirmando que até 25 de Setembro de 1994, Chissano deveria aceitar o Governo de Unidade Nacional, ameaçando: “O meu problema não é ser vice-presidente, mas sim o que vai acontecer 24 horas depois das eleições. A minha posição não é de fraqueza, mas sim de força.
(…) vai haver compromisso sobre futuro político de Moçambique até 25 de Setembro. Diz-se que na Constituição não está previsto o cargo de vice-presidente, mas se for necessário, a Assembleia da República pode reunir-se rapidamente e colocar esse postulado”.
Compreende, Mano Mané, Dhlakama queria uma reunião rápida da Assembleia da República para colocar o postulado de vice-Presidente na Constituição da República antes das eleições de 1994. É isso que Manuel de Araújo chama de conflito pós-eleitoral? O certo é que Joaquim Chissano recusa e diz: “Isso é com ele! Ele é que sabe como vai fazer”.
Resumindo: Chissano rejeitou a imposição do GUN e do cargo de vice-Presidente. Está documentado e creio que figuras como Manuel de Araújo, Raúl Domingos e Eduardo Namburete, duas das quais com referências académicas muito acima da média entre moçambicanos [Mano Mané e Namburete], não deveriam, nem por lapso, ignorar tais factos – salvo se a intenção for de enganar os incautos, recorrendo a argumentos que não são verdadeiros argumentos!
Mas o cerne da questão é o Estatuto do Líder da Oposição. Sucede que o Domingo, na edição de 9 de Outubro, antes das eleições de 27, 28 e 29 do mesmo mês, noticia que “Chissano garante estatuto especial a Dhlakama”: eis a génese do Estatuto do Líder da Oposição, Mano Mané!
“É uma personalidade que deve ser respeitada na medida em que vai provar ter gente que o ouve. Aliás, é o que se passa com Jesse Jackson, que tem tratamento especial nos Estados Unidos (…) Terá que ser uma figura de respeito que até pode receber missões do Estado”. Foi assim que Chissano pensou e disse publicamente, através da imprensa, acrescentando:
“(…) o próprio Dhlakama propôs que lhe déssemos o tratamento que tem um Presidente da Assembleia da República. Só que ele quer que isso seja por um acordo, e eu recuso-me a fazer acordos nesse sentido. Um acordo prevê reciprocidade, mas eu não exijo nada dele, se ele ganhar as eleições, que faça um Governo do jeito que bem entender”. Acha, Mano Mané, que esta declaração é pós-eleitoral?
Mais tarde Dhlakama, depois das eleições, rejeitou integrar o que hoje configura o Conselho de Estado, também sob proposta de Joaquim Chissano. A exigência é que esse grupo que Chissano pretendia, fosse criado por lei. Coube à Assembleia da República, já no mandato de Armando Guebuza, aprovar a criação do Conselho de Estado mais ou menos em conformidade com as exigências de Dhlakama. Mas ele nunca tomou o seu lugar até hoje no referido órgão.
O que dizer, então, Mano Mané? O Estatuto do Líder da Oposição, aprovado pela Assembleia da República em 2014 como Estatuto Especial do Líder do Segundo Partido com Assento Parlamentar, em termos de génese, não visava resolver conflitos pós-eleitorais. Quem conduziu o processo até aí, foi o próprio Afonso Dhlakama. Por outras palavras: antes mesmo das eleições de 1994, as primeiras multipartidárias, Chissano procurou acomodar o presidente da Renamo, mas este se mostrou irredutível, com ameaças e tudo o que está registado e acessível a quem quiser consultar.
Outro exemplo: Dhlakama, depois das eleições de 1994, disse que Chissano estava a insistir em lhe dar estatuto especial [repare na coincidência “Estatuto Especial”] ou estatuto condigno. O Diário de Moçambique de 30 de Maio de 1995, sete meses depois das eleições, noticia que Dhlakama diz que, devido à insistência do Presidente da República, em lhe conceder estatuto condigno, vai designar uma instituição humanitária para tomar conta do valor oferecido para apoiar as crianças desfavorecidas.
“Como o Presidente insiste que não se pode acumular dinheiro nas Finanças vou brevemente designar uma instituição para levantá-lo e para fins humanitários”. O matutino atribui estas palavras ao presidente da Renamo. Atenção à declaração “o Presidente insiste”! Está claro que a “oferta” de Chissano não visava resolver nenhum conflito pós-eleitoral, mas sim a valorização de uma figura importante na história de Moçambique pós-independência e no processo de democracia.
É isso que creio que Manuel de Araújo numa situação normal saberia. Não creio que intencionalmente manipulasse a opinião pública, tornando conflitos não pós-eleitorais em pós-eleitorais. Dou-lhe benefício da dúvida, na ideia, que não é minha, de que ao lhe conceder o benefício da dúvida, acredito na imagem positiva e benéfica dele, como se ele estivesse sendo realmente sincero e honesto ao apresentar o argumento de conflito pós-eleitoral.
Mano Mané, observo, seria de grande utilidade que procurasse ver o que tem estado a acontecer desde 1992, antes de chegar a conclusões sobre temas delicados devido às suas consequências. Se não fizer isso, estará a contribuir para a incompreensão da realidade moçambicana decorrente da assinatura do Acordo Geral de Paz, hipotecando uma parte importantíssima da história.
Se Afonso Dhlakama fosse comedido nas suas exigências, teria obtido Estatuto Especial. É que o Estatuto Especial proposto por Joaquim Chissano foi o embrião do Estatuto Especial do Líder do Segundo Partido com Assento Parlamentar, uma figura que tem gente que a ouve, obviamente para o segundo candidato mais votado.
Quer dizer, Dhlakama há pelo menos 20 anos teria vivido a experiência, passe o exemplo, de Jesse Jackson – pensando na proposta de Chissano anterior às eleições de Outubro de 1994. E acredito que esse Estatuto Especial teria sofrido emendas como acontece com a Constituição da República, para se encontrar uma melhor formulação possível.
O Estatuto, na sua génese, não poderia ser como paracetamol nem pomada, mas sim a valorização e dignificação de Afonso Dhlakama no contexto político nacional. Que hábito é esse de fazer especulações sobre assuntos documentados, quando há fontes escritas? É falta de tempo para pesquisa? Talvez.
Nós, escribas, infelizmente, não conhecemos o caminho que leva ao nosso arquivo ou arquivos de outros órgãos de comunicação social. Há elites intelectuais que fazem o mesmo, mas se apresentam como detentoras da verdade sobre conflitos resultantes das reivindicações da Renamo e Afonso Dhlakama.
Isso é perigoso quando feito por figuras que foram ou são dos meios académicos, a quem os seus estudantes e a sociedade confiam e julgam que fazem intervenção baseadas em argumentos verdadeiros, estudos ou pesquisas fiáveis, quando, sem se saber bem os porquês, não passam de argumentos não verdadeiros e, por isso, maus.
Só para situar o leitor: Manuel de Araújo falava como um dos oradores da mesa redonda organizada pelo Centro de Estudos de Democracia e Desenvolvimento (CEDE), subordinada ao tema Estatuto do Líder da Oposição. É suposto que as declarações do Mano Mané serão usadas pelo CEDE nas suas publicações, mas carregam consigo argumentos não verdadeiros [argumentos] porque falam de conflito pós-eleitoral quando a história não diz isso. E depois vamos criticar os nossos filhos e irmãos, ora estudantes, pelas suas imperfeições na interpretação dos fenómenos!

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

GOVERNO PERDENDO GUERRA DA PROPAGANDA



“Governo perdendo guerra da propaganda”
[Quantas vezes Dhlakama rompeu diálogo com Chissano e Guebuza?]
I
 “Governo perdendo guerra da propaganda”. Este título foi publicado há 14 anos pelo Boletim sobre o processo de paz em Moçambique, da AWEPA, Associação dos Parlamentares Europeus para a África, nº 26 –10 de Abril de 2001. Questão: não será que continuamente o Governo perde guerra de propaganda? Por quê?
O Boletim, nessa altura em que Joaquim Chissano era Presidente da República, explicava essa perda, numa constatação de diplomatas, “apesar das disrupções da Renamo na AR, às quais os diplomatas se opuseram, e à posição rígida da Renamo na exigência dos governadores, que os diplomatas concordam que não pode ser feita”.
A publicação refere-se a dois factores que causavam “descontentamento dos diplomatas relativamente à Frelimo”. Quais? “Primeiro, o governo é considerado responsável pela corrupção galopante e há sentimento de que a linha dura da Frelimo ajudou a provocar a violência em Novembro passado” [Novembro de 2000 – caso Montepuez].
“Segundo, os diplomatas sentem que o governo estaria em melhor posição para poder ser conciliatório e fazer concessões”. Foi isso que “em parte levou a comunidade diplomática a questionar menos as reivindicações da Renamo. Um diplomata, por exemplo, disse ao Boletim que as exigências da Renamo incluíam a abolição imediata do sistema de justiça e a nomeação de funcionários a todos os níveis em seis províncias, pela Renamo.
Mas é evidente também que os diplomatas sentem que a Frelimo e o governo podiam oferecer mais. Por exemplo, a Renamo pediu que algumas pessoas das suas fileiras fossem colocadas nos conselhos de administração da Rádio Moçambique e da companhia do jornal privado controlada pelo governo que é proprietária do jornal Notícias, e isto foi recusado. Mas os diplomatas europeus fazem notar que directores pertencendo à oposição são comuns nas rádios estatais na Europa, como forma de garantir equilíbrio”.
O governo não continua a perder a guerra de propaganda? Dhlakama faz e desfaz. Quando manda atacar em Tete ninguém se importa. Mas se as Forças de Defesa e Segurança um dia respondessem, várias vozes sairiam a criticar o governo, seriam escritas várias cartas aos libertadores da Pátria, concedidas entrevistas, dizendo que não há vontade para o diálogo, porque, como dizia uma activista, quem quer dialogar não ataca! Por quê? Não sei. Mas pode prevalecer válida a constatação de 2001 feita pelo Boletim da AWEPA.
II
Quantas rupturas do diálogo foram registadas no período de 1995 a 2015? Melhor: quantas vezes, Afonso Dhlakama se furtou ao diálogo com Joaquim Chissano, Armando Guebuza e Filipe Nyusi? Semana passada, fiz uma referência aos discursos do padre Couto.  
Não hei-de dizer o número das tantas vezes em que houve interrupção do diálogo quer no tempo de governação de Chissano quer no de Guebuza. Darei exemplos apenas. Quanto ao presente momento, penso ser escusado qualquer abordagem, porque o tema é actual, tornando-se desnecessário porque Afonso Dhlakama insiste na “agenda concreta” para se sentar com Nyusi.
“Ruptura de conversações com a Renamo a insistir que ganhou a eleição de 1999”. Foi assim que o Boletim sobre o processo de paz em Moçambique, número 26 –10 de Abril de 2001,  descreveu os factos, que se seguiram às eleições de 1999 e manifestações violentas do ano 2000, quanto ao diálogo Chissano-Dhlakama.
“Ambas as partes concordaram em que o primeiro encontro foi amistoso e correu bem. Incluiu uma sessão dos dois líderes a sós, e algumas exigências como o da abolição do sistema judicial, foram atenuadas. Houve um comunicado conjunto”.
Outra informação interessante: “O segundo encontro, a 17 de Janeiro [2001], foi muito diferente, foi difícil, tenso e confrontacional. Não houve nenhum encontro a sós. Cada lado acusou o outro de ter mudado completamente depois de os outros terem objectado contra o tom conciliatório do primeiro encontro e forçado os respectivos presidentes a tomar posições mais firmes”.
O Diário de Moçambique de 18 de Janeiro de 2001, cita Chissano a afirmar: “Diálogo foi duro”. Claro que ambos não estavam satisfeitos. Mas uma curiosidade reside no facto de se descrever o acontecimento atribuindo culpas aos “outros”.
Constrói-se a ideia de que Joaquim Chissano simplesmente agia sob pressão de uma espécie da linha dura da Frelimo, pois, de contrário, aceitaria as exigências da Renamo: recontagem do voto presidencial de 1999, abolição imediata do sistema judicial [por estar viciado e fortemente partidário], representatividade equilibrada e tratamento igual da Renamo, no exército, na polícia, PIR e SISE [14 anos depois, isso é expresso em paridade], nomeação pela Renamo-UE de governadores, administradores e chefes de posto, nas províncias onde a Renamo-União Eleitoral obteve maioria, libertação das pessoas detidas em ligação com as manifestações de 9 de Novembro do ano 2000, desmantelamento das estruturas partidárias na administração pública…
Esta maneira de pensar mantém-se até hoje. A esse tipo de exigências e outras similares, Chissano chegou a afirmar que não aceita compromissos “chantagistas”.
Continuando no Boletim, assinalo que o diálogo Chissano-Dhlakama ocorria na Assembleia da República: “O encontro seguinte foi a 29 de Março e de novo foi tenso, com delegações maiores, de oito pessoas cada. Após cinco horas de conversações, Dhlakama abandonou o encontro entregando a Chissano uma carta já escrita e rompendo o diálogo”.
Questionava-me, semana passada, sobre as entrevistas que o padre Couto concede a semanários privados “independentes”, tecendo considerações baseadas não em factos que se podem provar, porque houve rompimento do diálogo com Chissano em 2000 e 2001, mas não só. Desconfio que se manipule a opinião pública!
Com Armando Guebuza, Afonso Dhlakama também rompeu o diálogo, afirmando que não havia seriedade. Quando? Um artigo de semanário privado, em Maio de 2011, referia:
“Recorde-se que recentemente o partido de Afonso Dhlakama rompeu as negociações (diálogo para a Frelimo) que vinha mantendo com a formação no poder (…). Em teoria, as negociações/diálogo visavam tratar aspectos malparados dos acordos de paz, mas na prática era o início de uma operação visando acomodar melhor Afonso Dhlakama e a Renamo, sobretudo, na partilha do poder político e económico”.
Porque o objectivo não é arrolar tudo, mas sim dar exemplos sobre as inverdades que são semanal ou diariamente publicadas sobre o diálogo entre Afonso Dhlakama e os titulares do cargo de Presidente da República, desde Joaquim Chissano, passando por Armando Guebuza até Filipe Nyusi, esta informação parece suficiente.
Resumindo: Afonso Dhlakama mantém a sua atitude em relação a qualquer titular do cargo de Presidente da República. O resto é pura ilusão, que resulta da propaganda, em parte, a que alude o Boletim de 2001.
Curioso é o quadro apresentado com insistência por padre Couto, partindo do período de governação do primeiro PR eleito por sufrágio universal, sem ter em conta factos ocorridos. Toma-se opinião não fundamentada e procura-se interpretar acontecimentos. A “Carta aos Libertadores da Pátria”, em parte, também contém o mesmo tipo de erros, idem outras cartas e entrevistas concedidas a jornais nacionais e estrangeiros. Tira-se proveito do analfabetismo e pobreza da maioria dos moçambicanos, manipulando os acontecimentos e perigando a paz.
Continuo a pensar que se naquele período o Governo perdia “guerra da propaganda”, mesmo na actualidade essa batalha não ganhou e isso adensa o ambiente político e favorece a Afonso Dhlakama e  Renamo.  A propaganda continua favorável a Dhlakama e seu partido, com intervenções mal conseguidas do padre Couto e outras elites intelectuais que julgam que as suas opiniões são a verdade. O que se quer? Tornar difícil a vida dos moçambicanos. Lembro-me de uma entrevista de um académico, afirmando que se “a Frelimo não mudar, o povo vai removê-la”, publicada por um semanário no dia 17 de Fevereiro 2012.
Problema: o facto de alguém não gostar da Frelimo ou se zangar com esse partido, não pode resultar em empurrar o país para a guerra. Alguém se lembra que Afonso Dhlakama chegou a dizer que se ele fosse governante, baniria o Observatório Eleitoral liderado por Brazão Mazula, quando disse o “dito verdadeiramente dito” em Nampula?
Hão-de me desculpar compatriotas, mas deixar que se diga que Afonso Dhlakama respeitava Joaquim Chissano, que ambos se entendiam e que não havia tanto descontentamento, violência e outros males, alguns dos quais provocados pela Renamo, é cultivar mentira. Dhlakama coloca-se acima de tudo e de todos e não é verdade que ele ficava no gabinete de Chissano das 8:00 até 17 horas! Ele é o único presidente de partido que anda escoltado!

segunda-feira, 20 de julho de 2015

HISTÓRIA FAST FOOD DA RENAMO


I
Duvido se é de alguma utilidade, hoje, a Renamo se justificar ou escrever uma nova história sobre as suas origens, causas de surgimento e objectivos prosseguidos: se o que está escrito pode ser reescrito, isso não significaria eliminação da verdade histórica.
[A verdade histórica é um limite que não se deve violar (…) ”. É assim como pensa o romancista  cubano, Leandro Padura. Esta declaração fê-la em entrevista à Folha de São Paulo, numa das edições deste jornal brasileiro].
Mas, em contrapartida, reputaria de grande préstimo, por concorrer para a estabilidade do país e tranquilidade dos moçambicanos amantes da paz, procurar fortalecer-se como uma organização política desarmada.
As armas amordaçam as ideias, as provavelmente boas em ambiente democrático e da razão, esta como apanágio do homem, incluindo o discurso recorrente do seu líder sobre como surgiu a organização MNR, prevalecendo a  Renamo que a Afonso Dhlakama dela tenta se distanciar (?) ao procurar oferecer a história fast food.
 [“A guerra civil foi justificada pela causa de traição da independência por parte da Frelimo” – diz hoje Dhlakama].
Mantendo-se armada e com vontade de permanecer armada, a organização “político militar” liderada por Afonso Dhlakama, a cada dia vai revelando aos moçambicanos as suas bases em Tete, Inhambane e Gaza. Era de supor terem sido desmanteladas, com a assinatura do Acordo Geral de Paz, a 4 de Outubro de 1992.
Creio que, por este andar, Dhlakama revelará novos nomes das suas bases e dos ataques que tem ordenado – assumiu o de Tete este ano.
Desde 1992, o que se apregoou, com coro de personalidades cujo discurso se assumia como inquestionável na interpretação do AGP, foi: o presidente da Renamo tem [uns 150] homens da sua segurança pessoal como líder e isso está previsto no acordo de Roma.
Li várias vezes o Acordo Geral de Paz. Não achei nenhuma linha, frase, período ou parágrafo estabelecendo: Afonso Dhlakama deverá manter ou instalar bases em Sadjunjura, Nampevo, Muxúnguè, Guijá ou outro ponto qualquer de Moçambique quer para a sua segurança pessoal quer para outros fins, tais como os ataques ocorridos de 2013 a 2014.
Como me tenho dedicado à leitura e análise de vários acontecimentos, entre os quais os que envolvem a Renamo e o seu líder, para entender a não cessação definitiva da violência e não desarmamento, gorando-se desde 1992 as expectativas, não escondo [parafraseio Dhlakama nisso de “não escondo”]: a possível existência de homens desde então escondidos pela Renamo, não me espanta.
O homem do “dito verdadeiramente dito” desinteressadamente até conseguiu do Zimbabwe
 [Rodésia de Ian Smith, certeza absoluta] três armas, AKM, emprestadas. Curioso!
Mas, em história, quando se aborda a fundação de uma organização política como seria o caso da Renamo, torna-se insuficiente declarar em entrevistas ou comícios que fulano, sicrano e beltrano se reuniram, secretamente, para fundar um movimento armado ou político.
Não sei se existe uma organização do género cuja história se resuma a encontros não documentados. As conversas entre Afonso Dhlakama, André Matsangaíce ou provavelmente outros, a terem ocorrido, seriam a fase preparatória para a criação da organização MNR.
A fundação de um clube de futebol, empresa, igreja, etecetra, tem uma etapa formal. A sua existência, em situação normal, tem como testemunho uma acta ou outras referências relevantes e irrefutáveis: um lugar concreto, presidente da assembleia, órgãos eleitos constitutivamente, sufragados ou nomeados – e em caso de nomeação, o nome de quem nomeia – participantes e convidados ao evento.  
Penso ser isso o que a nova Renamo, existindo para negar a velha ou contestar o que considera ser mentira da Frelimo [a ser mentir, de facto, haveria muitos historiadores ou intelectuais mentirosos e, mais do que isso, tão maus que são devem detestar a Renamo, e, por isso, em tudo o que se pode ler, escrito por eles, associam a existência da MNR ao serviço de inteligência rodesiana], querendo, pode desvendar.
De contrário, perde tempo com fast food, que daí pode não passar. Parece não ser relevante, hoje, discutir como a MNR, mais tarde Renamo, nasceu, sua visão e missão em Moçambique. Seria de grande interesse, acredito eu, provar que não existe para guerras contínuas, desarmando-se e não se mantendo como pode ter ocorrido há 37 anos.
O partido de Afonso Dhlakama tem história diferente, contrária da convergente na sua ligação com a Rodésia de Ian Smtih? O que se sabe sobre MNR/Renamo não foi escrito tudo por pessoas ligadas à Frelimo. Vale a pena, aí, insistir no que diz Leonardo Padura: “A verdade histórica é um limite que não se pode violar”.


II
Domingo passado, a Renamo novamente pode ter escrito mais uma história fast food: celebração dos 35 anos do seu destacamento feminino. Foi a 5 de Junho de 1980, diz-se, que ocorreu a incorporação das primeiras mulheres, juntando-se aos homens da organização MNR, na luta “pela democracia”.
O que é problemático? Parece [escrevo parece porque pode ter escapado uma notícia sobre isso] que a Renamo, numa situação normal, estaria a exaltar esse feito há bastante tempo. Por exemplo, em 1995, um ano após as eleições, poderia ter celebrado15 anos dessa incorporação.
Mas em 1995, Afonso Dhlakama entretinha-se a ameaçar dividir Moçambique.
Ele exigia que Joaquim Chissano nomeasse governadores indicados pela Renamo para Sofala, Manica, Tete e Zambézia, assim como parte das receitas dos Caminhos de Ferro de Moçambique. Manuel Pereira falava de colocar cancelas no Save.
Sem surpresa, leio na edição de A Bola, do passado domingo [dia 5 de Julho de 2015, para que não haja equívocos]: “Líder da Renamo ameaça cortar principal estrada do país”. Que azar persegue os moçambicanos?
Por quê? Simples: em nenhuma das notícias inseridas no topo das colunas do diário desportivo português referentes aos cinco Países de Língua Oficial Portuguesa, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, tirando Moçambique, se estimula violência.
A notícia do topo para a coluna de Moçambique é mais uma a “ameaça” de Afonso Dhlakama!  
Sem que fosse celebrado com periodicidade tal marco, que se quer histórico para a Renamo, 35 anos depois, faz-se uma cerimónia, mas até ao momento em que escrevo estas linhas ninguém revela os nomes das combatentes homenageadas. Estão vivas? Porque desde 1992 não apareceram em público, contrariamente ao que fazem as de outras organizações em Moçambique?
Sei que é possível, por exemplo, provar quem esteve no II Congresso da Frente de Libertação de Moçambique, de 20 a 25 de Julho de 1968, em Matchedje, mesmo daqueles que um político desatento [não seria boateiro?] declarou, em entrevista à televisão, que seus nomes não tinham sido gravados em mármore no monumento já erguido.
Até os moçambicanos mais novos conhecem mulheres do Destacamento Feminino da Frelimo, não interessando se todas ou não. 
A Renamo não tem documentos sobre a sua história, além de entrevistas concedidas pelo seu líder? Por quê? Foram destruídos durante a guerra dos 16 anos? Espero que as mulheres que se filiaram no MNR no dia 5 de Junho de 1980 contem a sua história irrefutável aos moçambicanos. Desde lá, passam cerca de 35 anos.
Seja como for, é preferível Afonso Dhlakama no fast food 5 de Julho de 1980, a ouvi-lo a confirmar ordens dadas aos seus homens para atacarem agentes do Estado em Tete.
Mas na cerimónia de algures em Dombe, tendo em conta a notícia do jornal A Bola, repetiu os caldos entornados. Dhlakama fez como no passado: em vez de celebração dos feitos, ameaça.
A última grande celebração do aniversário da morte de André Matsangaíce, em Outubro de 1912, acabou com um ensaio militar ou reagrupamento dos homens armados, que em 2013 semearam dor e luto, sobretudo no troço Muxúnguè-Save.
Uma coisa semelhante entre Sadjunjira e Dombe: um local é preparado para reunir homens e mulheres, mas praticamente ninguém disso se apercebe. Dhlakama usou ambos os eventos para fazer ameaças aos moçambicanos.
“Vou esticar a corda e acabar com a paciência”, declarou o líder da Renamo, segundo o jornal A Bola.
O que fará pelas combatentes que há 35 anos foram recrutadas para as fileiras da sua organização?
Não se sabe, senão, de acordo com a mesma fonte, que “o número um da Renamo ameaçou não só cortar a N1 como evacuar edifícios públicos e expulsar administradores locais nomeados pelo governo”.
A Renamo e Afonso Dhlakama têm uma forma sui generis de valorização dos seus combatentes: renovação de actos de instabilidade! São os homens armados amordaçando o que seria uma organização política em ambiente em que a razão é o apanágio do homem. (X)

PS: Escrito o artigo, fui achar uma entrevista interessante de Dhlakama, a revelar que quando estiver no cargo de Presidente da República de Moçambique vai escrever a história da Renamo. Espero que alguma longevidade da família me dê esse prazer.
Anseio  também que não cair em nenhuma daquelas emboscadas “tipo” Muxúnguè, Save e por aí fora do passado, porque aí  as coisas tornar-se-iam mais complicadas. É quando se tem de falar de sorte!




sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Milando do Calado Calachinicov versus caso Nuno Castel Branco

(Convite a debate sobre liberdade)
Diz-se, melhor, publica um semanário, um dos mais antigos em Moçambique, a seguir ao Domingo, que  Gilles Cistac apresenta queixa à Procuradoria Geral da República (PGR), estando em causa escritos difamatórios publicados nas redes sociais.
Se, de facto, o faceboqueiro Calado Calachinicov escreveu isso, de que Cistac obteve a nacionalidade moçambicana de forma fraudulenta, meteu-se num grande milando, deixando de lado a sua apreciação, opinativa, de que o constitucionalista estaria “a fomentar a divisão do país para obter ganhos obscuros”.
Cito excertos do artigo desse semanário:
“(…) os escritos deste faceboqueiro constituem um verdadeiro atentado à sua honra e ao seu bom nome pelo que, optou por avançar pela via judicial para exigir a reposição de danos…
(…) as acusações de Calachinicov constituem o ponto mais alto da intolerância bem como da violação dos direitos fundamentais”.
Cistac é citado a declarar que já sentiu sinais de intolerância política, académica e até de racismo. Ele tudo isso ignorou, mas acha que já basta, quando aparecem acusações de prática de actos criminosos e por isso diz: “Vou avançar com uma queixa crime junto à Procuradoria”.
Esta queixa de Gilles Cistac recorda-me o que se diz no caso do escrito do Nuno Castel-Branco. Não faltaram artigos condenando o facto de a mesma PRG ter intimado Castel Branco, defendendo-se que isso era contrário à liberdade de expressão e de imprensa. Que tudo o que Branco tinha escrito fê-lo em pleno gozo desses direitos previstos na Constituição da República.
Não será que num caso, quando convém a determinados sectores, incluindo a imprensa, se discutem as tais liberdades, mas noutro, não.
Lembro de um agora deputado que chegou a falar de fascismo em Moçambique, ao atacar o mais alto magistrado da Nação Moçambicana. Se tivesse sido intentada uma queixa contra essa figura, o que teríamos ouvido é que há perseguição, intolerância, coarctação da liberdade de expressão.
É amnésia? O que nós, moçambicanos, prosseguimos? Não seria a hora de revermos a nossa atitude para que não confundamos a opinião pública? Estaria Gilles Cistac a intimidar o Calado Calachinicov ou não? A queixa seria manifestação de tolerância ou não,  analisando o caso e relacionando-o com o de Nuno Castel-Branco, que também passou pelas mesmas redes sociais?

II
E, mesmo para misturar, do mesmo semanário leio que Munícipes da Beira “gazetam” comício da Frelimo. Quem são os tais munícipes?
Até porque essa é a parte menos pitoresca do artigo, pois a mais engraçada é a diz que “(…) o partido Frelimo delegou aos chefes de quarteirão, membros dos grupos dinamizadores e membros da Organização da Juventude Moçambicana (OJM) a missão de se deslocarem aos bairros e apelar às comunidades para se fazerem presentes”.
OJM? Ainda pode ser verdade, mas os chefes de quarteirão e os grupos dinamizadores, se não for ficção jornalística, não se podem ter envolvido nessa mobilização, porque a sua existência está claramente ligada ao Conselho Municipal da Beira e, por essa via, o mais provável é que estejam filiados no MDM e não na Frelimo. Até os régulos estão ligados ao CMB e por essa via mais próximos do MDM, liderado por Daviz Simango!
Não quero acreditar que o CMB ou MDM tenha trabalhado a favor do adversário político, a Frelimo. Deve ser peta e se fosse a reler Nós Matamos o Cão Tinhoso, reproduziria que “é peta do Quim”.
O narrador nesse conto de Luís Bernardo Honwana diz:
“(…) O Quim disse-me também que as feridas do Cão-Tinhoso eram por causa da guerra e da bomba atómica, mas isso é capaz de ser pêta.  O Quim diz muitas coisas que a gente nem pensa que podem não ser verdadeiras, porque quando ele as conta a gente fica tudo de boca aberta. A malta gosta de ouvir o Quim a contar coisas de outras terras e os filmes que vai ver lá em Lourenço Marques, no Scala, e as coisas do El Índio Apache a jogar luta-livre e a fazer tourada, e aquilo que El Índio Apache fez ao Zé Luís no Continental. O Quim diz que El Índio Apache só não vai ao focinho ao Zé Luís porque não quer”.
Ou seja: a mentira se confunde com a verdade. E quer nas redes sociais quer em outras ferramentas de comunicação anda muito Quim escondido, a contar coisas ou escrevendo o que “gente nem pensa que podem não ser verdadeiras, porque quando ele as conta a gente fica tudo de boca aberta”.
Não é de ficar de boca aberta quando se diz que a Beira tem chefes de quarteirão e de grupos dinamizados afectos à Frelimo, que não conseguiram fazer a Frelimo triunfar? Que coisas!


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

ARITMÉTICA DE MANO MANÉ

[Mais achas para a fogueira]

Aritmética de Mano Mané, pode agitar as consciências lá na cúpula do Democrático, o Movimento de… Para Todos, mas que se diz ser para poucos. Isso de ser para poucos, pode ser má língua. Má língua, há para tudo e todos, em todos os momentos.
Todas as semanas capas de jornais, ora dizem que esta dança é exclusiva para execução daquele e outro não dança da mesma maneira, ora o político fulano não se entende com político sicrano, enfim, vão sendo criados, arquitectados é mais bonito, soa bem, problemas, para criar desconfiança, onde a confiança se via florescente.
Obras de má língua, até podem passar para vídeos e depois se discute se é ela ou não… Mas isso é outra coisa, não parece o caso do Para Todos e Mané, o De Araújo.
Pela insistência do Mané, que não se confunde com o finado do Ansumane, de Bissau, de resto nunca houve nada semelhante, senão a magreza, se for, porque não vejo de perto o Mano, passam anos, tirando as imagens nos jornais e televisões, não há fumo sem fogo.
O Mano Mané, De Araújo, tem estado a questionar a democraticidade lá no Movimento e até discordou do que o Democrático usou para justificar o desaire nas presidenciais, legislativas e na eleição para as assembleias provinciais, tendo em conta as expectativas não só internas mas também externas enquanto prevalecia Sadjunjira e as sondagens diziam o que eram as suas conclusões, porque, de contrário, até amealhou um pouco lá na 24  de  Julho.
Logo ele disse que havia que assumir os erros cometidos, quando os outros, seus correligionários, incendiavam a casa do adversário ladrão eterno – só eles nunca roubaram nada, nem uma manga do quintal alheio quando eram crianças!
Queria o Mano Mané, voltando à vaca fria, que o chefe da bancada do Democrático fosse um deputado eleito pelo círculo da Zambézia. Não conseguiu porque Chiveve é água que corre e Coco cai e para se ver água é preciso parti-lo.
O que pode ser estranho é que no mandato passado, salvo esquecimento meu, esta minha cabeça cheia de preocupações até me pode provocar amnésia, não se ouviu nenhuma voz, lá  na 24 de Julho – talvez porque o  neto rejeitado do Dzovo não tinha assento –, pedindo a existência do terceiro vice-presidente parlamentar, na ideia de que o contrário seria exclusão.
Nada. Formou-se a terceira bancada de oitos deputados sem nenhuma outra reivindicação, diz-se com beneplácito da maioritária, contra a vontade da eternamente segunda organização política mais votada, sempre que desiste dos boicotes que só afectam as autárquicas, pouca coisa se pensarmos na AR.
Será o efeito Mano Mané, que inspira as vozes do Democrático à procurar acomodação para serenar os ânimos? Não sei. De resto o nome do candidato a terceiro vice-presidente não chegou a ser revelado, se seria da Zambézia ou Nampula ou, para uma machadada, de Sofala! É que aí já não parece uma questão aritmética. Mas dá para reflectir, se o Democrático não procura acalmar as ondas turbulentas, mas imperceptíveis (?), com Mano Mané a deitar mais achas para a fogueira, através da 24  de Julho.
Há que lembrar a discórdia que se instalou em Nampula na constituição de listas de candidatos antes das eleições do ano passado. O Democrático pode precisar de deitar muita água na fervura e um terceiro vice-presidente da AR, sairia como uma arma secreta.
Que o Mano Mané está a dar muito TPC ao Democrático, lá isso é verdade! Mas não se pode dizer que seja o calcanhar de Aquiles da liderança do Para Todos, seria exagero. Afinal todos os partidos têm as suas intestinais! Maldita Constituição e Regimento!... Mas tudo se ajeita.