quarta-feira, 17 de abril de 2013

PALAVRA ARROGÂNCIA PODE SER ELA ARROGANTE


Ouço falar alternadamente de arrogância e intransigência, quando se discute a realidade ou actualidade política moçambicana, no caso das exigências, que as considero eternas,  da Renamo versus respostas do Governo. 

Quem considera outro  arrogante ou intransigente, alguma vez fez introspecção, para medir o alcance de qualquer uma destas duas palavras? Há sempre o risco de se ser arrogante ou intransigente, quando se usa estes dois adjectivos para qualificar o próximo.
Por isso mesmo, considero a palavra arrogância,  como arrogante à partida. Quem toma o próximo como arrogante, pode ele mesmo ser arrogante sem se aperceber disso.

Quais os mais mediáticos "dossiers" políticos e sociais moçambicanos, excluindo os económicos, que são mais recentes? 

O primeiro, que se eterniza, diz respeito à interpretação dos protocolos do Acordo Geral de Paz, sobretudo, salvo outros entendimentos. É isso que está a criar muitos problemas e que permitiu à Renamo até hoje manter uma força militar.

Acaso, a Renamo aceitou ao longo deste tempo que passa se desfazer dos homens armados, abandonar Marínguè e agora Vundúzi? Dir-se-ia que a Renamo é lúcida?

Como é que hoje se pode dizer que o fulano  é intransigente, quando, na verdade, este assunto de desarmamento da Renamo remonta ao tempo em que nem estava nas mãos dele o poder de decisão?

(E no intervalo, ainda tivemos o "dossier" Magermane. Quem se lembra do ano em que teve uma evolução mais ou menos positiva? E quem se recorda que o assunto provocou pelo menos uma morte?)

Outro importante "dossier" é o dos Desmobilizados de Guerra. Quando é que o Estatuto do Combatente foi aprovado, cobrindo também ex-guerrilheiros da Renamo, que durante anos estavam fora da possibilidade de receber pensões pagas pelo Estado?

Hoje os desmobilizados de guerra, de ambas as partes, reclamam melhores pensões, mas antes nem sequer tinham adquirido esse direito. E quem não tiver memória curta,  saberá dos debates que houve na Assembleia da República até se aceitar a inclusão dos ex-guerrilheiros.

E considero correcto que os desmobilizados queiram o melhor possível, mas tendo em conta que há alguns passos dados e que em Moçambique os salários não são de 20 mil meticais nem 12. 500 meticais, estão muito abaixo disso.

Convenço-me, em algum momento, que outra coisa se quer dizer, mas  ocorre uma falha de interpretação dos fenómenos. E acho curioso que se misturem outros assuntos fora das reclamações da Renamo versus respostas do Governo, quando se tenta provar a arrogância e intransigência.

Claro, não pretendo dizer que esse arrogante ou intransigente não tenha responsabilidades, mas provavelmente não seja tão arrogante ou intransigente como se pretende, se olharmos para assuntos que outros  (não arrogantes ou intransigentes) deixaram, tendo sido depois resolvidos, ainda que não seja como seria de desejar.

Até hoje não me esqueço do dia do diálogo ocorrido na AR, em que as partes saíram do encontro,  um dizendo que o "País está doente" e outro, considerando que quem estava doente era quem o dizia.

Enfim, parece que, não se sabe bem os porquês, os moçambicanos estão cultivando o hábito de discutir pessoas e não ideias. Isso me deixa assustado, porque estimula a desordem, pode levar determinadas forças a matar, convencidas de que alguém depois interprete isso como consequência da arrogância do fulano. 

O medo de morrermos na estrada, como aconteceu em Muxúnguè,  resulta, em parte,  da interpretação do AGP. O pacote eleitoral foi aparecendo para aumentar as discussões, mas antes muitos incidentes ocorreram devido à existência de uma força que deveria ter sido desarmada.

E nisso de eleições, a Renamo nunca as aceitou como justas, livres e transparentes, como razão ou sem razão, desde 1994.