terça-feira, 26 de maio de 2020

SILOSIKAGUME: QUEM TEM MEDO DE GUSTAVO MAVIE?

SILOSIKAGUME: QUEM TEM MEDO DE GUSTAVO MAVIE?: Quem tem medo de Gustavo Maviel?* Mavie é livre de falar como quiser. De escrever também. O texto do confrade Marcelo Mosse, na sua Ca...

QUEM TEM MEDO DE GUSTAVO MAVIE?


Quem tem medo de Gustavo Maviel?*

Mavie é livre de falar como quiser. De escrever também. O texto do confrade Marcelo Mosse, na sua Carta de Moçambique, parece ser o que ele nega a Gustavo Mavie. Não precisamos de concórdia: chama-se a tudo isso, pluralidade de ideias.
Se Marcelo Mosse opinar como Mavie, então não se saberá distinguir quem é Marcelo quem é Gustavo. Não se pode ter medo de academias. Esse medo de criticar, que se calhar não seria do que Mavie pratica em relação à Frelimo, levou a duas coisas:
I)O Ministério da Saúde proibiu, inicialmente, que usássemos máscaras, dizendo que só deveriam usa-las os médicos e pessoas doentes, e não nos deu alternativa, porque somente aceitava as recomendações da OMS, sem procurar uma saída para a prevenção da doença do coronavírus senão a lavagem das mãos, distanciamento social (mais tarde foram aceites máscaras de pano, que já estavam a ser usadas em Angola);
II) O MISAU deixou que fossem implantados túneis de desinfecção e tardiamente veio dizer que são inúteis e, mais do que isso, constituem um risco à saúde humana.
 Tudo isso, aceitámos porque temos medo do que se fala em nome da ciência. Pensa-se que os cientistas, incluindo os sociais, não falham, são o nosso Deus na terra, o que não é verdade.
Em Portugal, não passam muitos dias, foram tornados públicos falsos casos positivos para a Covid-19. O alarme já soava. Corrigiu-se. Quer dizer, os testes laboratoriais podem falhar, o mesmo que dizer que os cientistas falham. A diferença é que as suas falhas nem sempre são públicas.
 Se cada um fizer as críticas no que lhe parece, num determinado campo, seja político seja socioeconómico, e outros fazem-no em relação ao lúdico, cultura e outras coisas, Moçambique é que ficará a ganhar.
Deixem-no ser como ele é: Luck Dube disse que se não tem nada a dizer de bom acerca de alguém, o melhor é permanecer calado ( Shut Up).
Qual é o problema de Mavie criticar os que critica (?), qual é o problema de Marcelo Mosse criticar os que critica (?).
Cada um tem as suas formas de viver os problemas na sociedade moçambicana: há quem considere Afonso Dhlakama um herói, mas outros consideram-no Homem da Guerra. Podemos discutir isso sem amarras.
Há quem queira Gustavo Mavie calado, para passear a sua classe. A discussão é indispensável até para o crescimento intelectual.
Há quem considere as Universidades Moçambicanas um grande Dumba Nengue;  outros, que saem dessas universidades, aplaudem sem crítica essa maninha de sempre tabelar por baixo, esquecendo-se que a expansão do ensino até à sua consolidação revelará fraquezas e só a entrega dos professores e estudantes podem minorar esse problema.
Gostaria de repetir, para os que me acompanham há anos, e aos que por acaso vão ler este texto, o seguinte:
“Em 1965, foi inaugurada uma universidade em Lourenço Marques (…). No programa de ensino deste estabelecimento foram incluídas unicamente faculdades de ciências sendo as letras e as humanistas (SIC) totalmente desconhecidas.
No ano lectivo de 1966 ela foi frequentada por 403 alunos, sendo em seis o número de estudantes africanos, dois dos quais estrangeiros.
Um facto digno de notar é que os filhos dos portugueses muito abastados não são enviados para esta Universidade. Eles continuam a frequentar as universidades em Portugal e na África do Sul. A razão que os leva para lá são as seguintes.
1.O diploma da faculdade de Lourenço Marques não é reconhecida em Portugal.
2.No caso de concorrência a um quadro, o «formado» em Portugal tem sempre maior preferência. (o mesmo é o caso dos quadros formados nas universidades da África do Sul);
3.A falta de faculdades, de modo que o aluno possa escolher o curso em que estiver interessado.
4.O baixo nível do corpo docente”. 
Os excertos podem ser consultados no livro de eli j. e.mar, cujo título é “Exploração portuguesa em Moçambique, 1500-1973), na página 194.
Seria admirável que a Universidade Eduardo Mondlane fosse uma ou a mais robusta de Moçambique? Não. Logo: quando debates vários assuntos, temos que buscar premissas verdadeiras. Não basta que um académico reconhecido seja onde for, fora de Moçambique, diga umas coisas, para nós aceitarmos sem nenhuma reflexão.
Dei o exemplo do MISAU.
Creio que se começarmos a discutir determinadas coisas, vamos melhorar a nossa vida e até dendefer a nossa saúde.
Mais, voltando à vaca fria, os que combatem Gustavo Mavie usam as armas que eles acham que não são as melhores – atacam Mavie, mas eles dizem que Mavie é que tem o hábito de atacar a todos que criticam o regime.
Mavie acabou sendo mais importante do que me parecia, pelo facto de o seu nome ter chegado à Assembleia da República. Lembraria o Rogério Dinis, o MC Roger a cantar: «Falem bem ou mal de mim, mas falem de mim». Deve ser esse o sentimento de Mavie por estas alturas: virou tema de discussão!

 NB: Não postava nada, faz algum tempo. Claro que continuo a escrever na minha coluna "FONTE", que sai à quarta-feira no Diário de Moçambique. Senti que vale a pena alargar o debate, porque se pensarmos que Mavie não tolera os outros, do que tenho estado a ler, a intolerância  evidencia-se também entre os que o criticam, pelas palavras que usam e pelo sentimento de que, por emitir opiniões diferentes das deles, chegou a hora de pagar por ESSA OUSADIA, de pisar em terrenos "proibidos", na Assembleia da República. Nunca percebi que a crítica fosse vista como escrutinar porque a pessoa criticar pode-se defender ou o seu círculo está livre de o defender.