“Governo perdendo guerra da propaganda”
[Quantas vezes Dhlakama
rompeu diálogo com Chissano e Guebuza?]
I
“Governo perdendo guerra da propaganda”. Este título foi
publicado há 14 anos pelo Boletim sobre o
processo de paz em Moçambique, da AWEPA, Associação dos Parlamentares
Europeus para a África, nº 26 –10 de Abril de 2001. Questão: não será que
continuamente o Governo perde guerra de propaganda? Por quê?
O Boletim, nessa altura em que Joaquim Chissano era Presidente da
República, explicava essa perda, numa constatação de diplomatas, “apesar das disrupções da Renamo na AR, às
quais os diplomatas se opuseram, e à posição rígida da Renamo na exigência dos
governadores, que os diplomatas concordam que não pode ser feita”.
A publicação refere-se a dois
factores que causavam “descontentamento dos diplomatas relativamente à
Frelimo”. Quais? “Primeiro, o governo é considerado responsável pela corrupção
galopante e há sentimento de que a linha dura da Frelimo ajudou a provocar a
violência em Novembro passado” [Novembro de 2000 – caso Montepuez].
“Segundo, os diplomatas sentem
que o governo estaria em melhor posição para poder ser conciliatório e fazer
concessões”. Foi isso que “em parte levou a comunidade diplomática a questionar
menos as reivindicações da Renamo. Um diplomata, por exemplo, disse ao Boletim que as exigências da Renamo
incluíam a abolição imediata do sistema de justiça e a nomeação de funcionários
a todos os níveis em seis províncias, pela Renamo.
Mas é evidente também que os
diplomatas sentem que a Frelimo e o governo podiam oferecer mais. Por exemplo,
a Renamo pediu que algumas pessoas das suas fileiras fossem colocadas nos
conselhos de administração da Rádio Moçambique e da companhia do jornal privado
controlada pelo governo que é proprietária do jornal Notícias, e isto foi recusado. Mas os diplomatas europeus fazem
notar que directores pertencendo à oposição são comuns nas rádios estatais na
Europa, como forma de garantir equilíbrio”.
O governo não continua a perder a
guerra de propaganda? Dhlakama faz e desfaz. Quando manda atacar em Tete
ninguém se importa. Mas se as Forças de Defesa e Segurança um dia respondessem,
várias vozes sairiam a criticar o governo, seriam escritas várias cartas aos
libertadores da Pátria, concedidas entrevistas, dizendo que não há vontade para
o diálogo, porque, como dizia uma activista, quem quer dialogar não ataca! Por
quê? Não sei. Mas pode prevalecer válida a constatação de 2001 feita pelo Boletim da AWEPA.
II
Quantas rupturas do diálogo foram
registadas no período de 1995 a 2015? Melhor: quantas vezes, Afonso Dhlakama se
furtou ao diálogo com Joaquim Chissano, Armando Guebuza e Filipe Nyusi? Semana
passada, fiz uma referência aos discursos do padre Couto.
Não hei-de dizer o número das tantas
vezes em que houve interrupção do diálogo quer no tempo de governação de
Chissano quer no de Guebuza. Darei exemplos apenas. Quanto ao presente momento,
penso ser escusado qualquer abordagem, porque o tema é actual, tornando-se
desnecessário porque Afonso Dhlakama insiste na “agenda concreta” para se
sentar com Nyusi.
“Ruptura de conversações com a
Renamo a insistir que ganhou a eleição de 1999”. Foi assim que o Boletim sobre o processo de paz em
Moçambique, número 26 –10 de Abril de
2001, descreveu os factos, que se
seguiram às eleições de 1999 e manifestações violentas do ano 2000, quanto ao
diálogo Chissano-Dhlakama.
“Ambas as partes concordaram em
que o primeiro encontro foi amistoso e correu bem. Incluiu uma sessão dos dois
líderes a sós, e algumas exigências como o da abolição do sistema judicial,
foram atenuadas. Houve um comunicado conjunto”.
Outra informação interessante: “O
segundo encontro, a 17 de Janeiro [2001], foi muito diferente, foi difícil,
tenso e confrontacional. Não houve nenhum encontro a sós. Cada lado acusou o
outro de ter mudado completamente depois de os outros terem objectado contra o
tom conciliatório do primeiro encontro e forçado os respectivos presidentes a
tomar posições mais firmes”.
O Diário de Moçambique de 18 de Janeiro de 2001, cita Chissano a
afirmar: “Diálogo foi duro”. Claro que ambos não estavam satisfeitos. Mas uma
curiosidade reside no facto de se descrever o acontecimento atribuindo culpas
aos “outros”.
Constrói-se a ideia de que
Joaquim Chissano simplesmente agia sob pressão de uma espécie da linha dura da
Frelimo, pois, de contrário, aceitaria as exigências da Renamo: recontagem do
voto presidencial de 1999, abolição imediata do sistema judicial [por estar
viciado e fortemente partidário], representatividade equilibrada e tratamento
igual da Renamo, no exército, na polícia, PIR e SISE [14 anos depois, isso é
expresso em paridade], nomeação pela Renamo-UE de governadores, administradores
e chefes de posto, nas províncias onde a Renamo-União Eleitoral obteve maioria,
libertação das pessoas detidas em ligação com as manifestações de 9 de Novembro
do ano 2000, desmantelamento das estruturas partidárias na administração
pública…
Esta maneira de pensar mantém-se
até hoje. A esse tipo de exigências e outras similares, Chissano chegou a
afirmar que não aceita compromissos “chantagistas”.
Continuando no Boletim, assinalo que o diálogo
Chissano-Dhlakama ocorria na Assembleia da República: “O encontro seguinte foi
a 29 de Março e de novo foi tenso, com delegações maiores, de oito pessoas
cada. Após cinco horas de conversações, Dhlakama abandonou o encontro
entregando a Chissano uma carta já escrita e rompendo o diálogo”.
Questionava-me, semana passada,
sobre as entrevistas que o padre Couto concede a semanários privados “independentes”,
tecendo considerações baseadas não em factos que se podem provar, porque houve
rompimento do diálogo com Chissano em 2000 e 2001, mas não só. Desconfio que se
manipule a opinião pública!
Com Armando Guebuza, Afonso
Dhlakama também rompeu o diálogo, afirmando que não havia seriedade. Quando? Um
artigo de semanário privado, em Maio de 2011, referia:
“Recorde-se que recentemente o
partido de Afonso Dhlakama rompeu as negociações (diálogo para a Frelimo) que
vinha mantendo com a formação no poder (…). Em teoria, as negociações/diálogo
visavam tratar aspectos malparados dos acordos de paz, mas na prática era o
início de uma operação visando acomodar melhor Afonso Dhlakama e a Renamo,
sobretudo, na partilha do poder político e económico”.
Porque o objectivo não é arrolar
tudo, mas sim dar exemplos sobre as inverdades que são semanal ou diariamente
publicadas sobre o diálogo entre Afonso Dhlakama e os titulares do cargo de
Presidente da República, desde Joaquim Chissano, passando por Armando Guebuza até
Filipe Nyusi, esta informação parece suficiente.
Resumindo: Afonso Dhlakama mantém
a sua atitude em relação a qualquer titular do cargo de Presidente da
República. O resto é pura ilusão, que resulta da propaganda, em parte, a que
alude o Boletim de 2001.
Curioso é o quadro apresentado
com insistência por padre Couto, partindo do período de governação do primeiro
PR eleito por sufrágio universal, sem ter em conta factos ocorridos. Toma-se
opinião não fundamentada e procura-se interpretar acontecimentos. A “Carta aos Libertadores da Pátria”, em
parte, também contém o mesmo tipo de erros, idem outras cartas e entrevistas
concedidas a jornais nacionais e estrangeiros. Tira-se proveito do
analfabetismo e pobreza da maioria dos moçambicanos, manipulando os acontecimentos
e perigando a paz.
Continuo a pensar que se naquele
período o Governo perdia “guerra da propaganda”, mesmo na actualidade essa
batalha não ganhou e isso adensa o ambiente político e favorece a Afonso
Dhlakama e Renamo. A propaganda continua favorável a Dhlakama e
seu partido, com intervenções mal conseguidas do padre Couto e outras elites
intelectuais que julgam que as suas opiniões são a verdade. O que se quer?
Tornar difícil a vida dos moçambicanos. Lembro-me de uma entrevista de um
académico, afirmando que se “a Frelimo não mudar, o povo vai removê-la”,
publicada por um semanário no dia 17 de Fevereiro 2012.
Problema: o facto de alguém não
gostar da Frelimo ou se zangar com esse partido, não pode resultar em empurrar
o país para a guerra. Alguém se lembra que Afonso Dhlakama chegou a dizer que
se ele fosse governante, baniria o Observatório Eleitoral liderado por Brazão
Mazula, quando disse o “dito verdadeiramente dito” em Nampula?
Hão-de me desculpar compatriotas,
mas deixar que se diga que Afonso Dhlakama respeitava Joaquim Chissano, que
ambos se entendiam e que não havia tanto descontentamento, violência e outros
males, alguns dos quais provocados pela Renamo, é cultivar mentira. Dhlakama coloca-se
acima de tudo e de todos e não é verdade que ele ficava no gabinete de Chissano
das 8:00 até 17 horas! Ele é o único presidente de partido que anda escoltado!
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