quarta-feira, 3 de agosto de 2016

CONTIVE AO DOCENTE CHACATE



Falar da história é saber
[Existe docente Chacate?]
Semana passada, estava sentado, à noite. Uma apresentadora de televisão disse que quem quisesse falar dever-se-ia apresentar. Boa ideia. Vai daí que um moçambicano, creio, disse que se chamava Chacate ou Chocate ou coisa assim. Estaria tudo bem se não tivesse acrescido a isso a sua profissão: docente. A partir daí a coisa muda de figura. Só ensina quem sabe. De contrário, engana seus alunos.
Na verdade, o problema do docente é de ter dito que violência se deveu a um Presidente. Deixou de pensar por si e foi erradamente influenciado por outro que tinha afirmado que se correu para as eleições, sem que se acautelasse o que poderia acontecer no futuro em 1994.
Por isso e para que Chacate e outros conheçam melhor Afonso Dhlakama, gostem ou não que escreva isso em relação às eleições, transcrevo o seguinte: “Irmãos da Frelimo andam nervosos”. É comentário de Dhlakama, na edição de 18 de Maio de 1994. O texto diz:
“O presidente da RENAMO, Afonso DHLAKAMA (o nome Dhlakama vem em maiúsculas na primeira página) disse ontem em Maputo que os nossos irmãos da Frelimo têm andado muito nervosos de há um mês para cá.
Segundo Dhlakama, tal nervosismo deriva dos problemas que se estão a enfrentar no processo de pacificação do país: ‘Há problemas na formação das nossas forças armada’.
Para a RENAMO, de acordo com o seu líder, ‘não há tempo para se formarem 30 mil homens antes das eleições de Outubro’. Na sua opinião, nesta primeira fase devem ser formados ‘apenas 15 mil homens, ficando os restantes em férias durante três meses. O Governo não partilha dessa opinião.
Afonso Dhlakama deixou ontem Maputo para Marínguè, onde está a sede do movimento, donde partirá para Quelimane, a fim de se reunir com dirigentes distritais da RENAMO das províncias de Nampula e Zambézia, as mais populosas do país.
Dhlakama disse a jornalistas em Maputo que deverá visitar as províncias de Sofala e Manica – onde se crê o movimento possua fortes bases de apoio, no próximo mês de Junho”.
Dhlakama acusava a Frelimo de ter no seu seio pessoas que, por terem vivido bem durante a guerra não viam com bons olhos o fim do conflito, em entrevista publicada pelo Diário de Moçambique, na edição de 3 de Janeiro de 1994.
 “ (…) Reparem que o Presidente Chissano já há meses que me promete um gabinete de trabalho em Maputo, mas até hoje quando me desloco à capital do país, sou forçado a trabalhar na residência que me está destinada. Isso é só um exemplo”, palavras atribuídas a Dhlakama.
O semanário Domingo questionou no dia 2 de Janeiro, através de uma entrevista a Teodato Hunguana, então ministro do Trabalho e um dos membros da Comissão de Supervisão e Controlo (CSC) do Acordo Geral de Paz (AGP), a irreversibilidade da paz alcançada em Outubro de 94.
Hunguana declara, sobre se a paz era irreversível ou não, que “há pontos de interrogação tão preocupantes, angustiantes, tão inquietantes, mas, de facto, temos razões para estarmos preocupados porque o processo ainda não provou a sua irreversibilidade”.
Ele considera mesmo, nessa entrevista, não ser impossível o retorno “a uma situação extremamente complicada neste país. Pelo menos mantêm-se todos os factores que permitem esse retorno”. 
Quais seriam, na perspectiva de eleições marcadas para Outubro de 1994, as preocupações que poderiam reconduzir o país a uma situação extremamente complicada? Ele aponta, na entrevista, os seguintes aspectos:
·         Atraso de mais de um ano no processo de acantonamento de guerrilheiros e tropas governamentais, daí considerar que estava a ocorrer um acantonamento simbólico.
·         O acantonamento dos 80 mil homens previstos, iniciado em finais de Novembro de 1993, até 24 de Dezembro do mesmo ano tinha abrangido 24 mil efectivos.
·         Presença em Moçambique do grupo malawiano Young Peeners, que serviu de base de sustentação da Renamo.
Tais inquietações levam-no a concluir que sem que fosse alcançado o momento-chave, o acantonamento dos 80 mil homens, o país corria o risco de realizar eleições num clima de intimidação, violência directa ou psicológica, podendo o todo o processo ser condicionado.
Hunguana considera o optimismo como vontade de realizar as eleições [de qualquer maneira], quando até subsistiam questões tais como de desmantelamento das forças irregulares.
Parece que havia uma vontade, do lado da Renamo, se calhar indomável, de realizar as eleições em Outubro de 1994.
Afonso Dhlakama acusava Frelimo de pretender adiar as eleições de Outubro de 1994, para limpar a sua imagem de marxista.
Já deixei expresso nesta espaço que não escrevo o que não esteja documentado sobre esse assunto que considero gravíssimo. Com muita pena vejo concidadãos meus que aparecem nas televisões usando títulos académicos para credibilizar as suas intervenções, contrariando as regras académicas.
Se nós quisermos discutir a questão de paz, não podemos apenas pensar que é puramente uma questão de ter espaço na televisão. Se queremos a paz, não vale a pena mentir.
O mais grave é que nas nossas televisões estão nossos filhos/netos que nunca procuraram ver o que aconteceu antes e depois são enganados pelos seus professores como o tal de Chacate ou Chocate e outros.
Quem quiser falar, antes deve se preparar. De contrário, vai fazer mal ao seu país. Eu não tenho vergonha de escrever que há quem esteja a fazer mal ao país, mas infelizmente tem apoio de pessoas que nunca se preocuparam em ver o antes.
A história não é uma invenção. Documenta-se. Outra coisa seria tagarelice. Afonso Dhlakama sempre pressionou e nunca, ao longo do tempo, deixou de se servir da ameaça de guerra. Não estou a falar da minha opinião, mas sim do que está documentado. A paz precária, senhor Chacate ou Chocate, não tem nada a ver com um tal Presidente, porque, se assim fosse, Dhlakama não estaria a fazer violência em 2016.
Estou com muita pena dos seus estudantes, que têm à frente um opinante e não um professor que usa a ciência, porque uma coisa é opinião e outra é conhecimento científico, mas quando se fala de ciências sociais e políticas. Ser docente é diferente de ser alguém que expressa a sua opinião. Só se ensina a verdade. A mentira é coisa da rua, de “tchungamoyo”, de “dumba negue”.
Meu irmão, vamos lá falar a verdade! Afinal em 2012-2014 o que Dhlakama dizia, para haver violência? Hoje fala de governar seis províncias. Esse tal de Presidente tinha-se desentendido com ele por causa de governar seis províncias? Não é verdade, porque a questão das seis províncias decorre das eleições de 2014.
Antes disso, a mesma questão tinha sido posta depois das eleições de 1999 quando, na verdade, diferentemente de 2014, a coligação Renamo-União Eleitoral tinha conquistado a maioria no Niassa, Nampula, Zambézia, Tete, Sofala e Manica. Os candidatos presidenciais nesse ano foram Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama. As reivindicações da Renamo-União Eleitoral terminaram em banho de sangue. Apoiantes da Renamo até deceparam os pénis de um jovem Polícia em Montepuez. O que isso de veio aquele Presidente, no caso o fulano, quando já antes em 2000, por exemplo, tinha-se vivido um cenário de extrema violência – nem todas as vítimas morreram, há sobrevivente!
Por fim, gostei de ouvir a sobrinha de Afonso Dhlakama, Ivone Soares, a ser citada como tendo dito que era urgente a revisão da Constituição da República. Não é que defenda a revisão da Constituição, mas reputo de uma discussão correcta usar a lei. A arma de guerra é algo brutal e mata, não faz sentido.
Quero sublinhar: a pessoa de Chacate, como pessoa, não me preocupa tanto, mas o facto de ser docente e dizer o que declarou, choca-me. Se em 2000 pouco percebia, uma releitura dos acontecimentos refrescar-lhe-ia a memória

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