terça-feira, 9 de julho de 2013

Não matar “Renamo”, mas “Renamo” matar

Antes que se façam juízos de valor sobre o título, não se pretende mais do que dizer que deveria haver uma pressão enorme sobre a Renamo, nacional e internacionalmente, para que Afonso Dhlakama não continue a dar ordens aos seus guerrilheiros para matar civis nem militares ou paramilitares.
Se assim fosse, os apelos da oposição extraparlamentar, de desarmamento da Renamo de forma pacífica, teriam maior impacto. De contrário, embora apoie o desarmamento sem derramamento de sangue, estou preocupado com o facto de a Renamo ter carta branca, para fazer as suas reivindicações sempre recorrendo à violência.
Começo a pensar que os moçambicanos têm que encontrar outras formas de lidar com a Renamo, sem falar necessariamente de actos violentos, mas outros que levem esta organização simultaneamente política e militar a rever os seus métodos no contexto do Estado de direito democrático.
E os moçambicanos, infelizmente, são induzidos em erro de se pensar que em Moçambique temos dois elefantes, o Governo (Estado) e a Renamo, e depois o capim, os cidadãos ou o povo se assim quiserem.
 “Quando dois elefantes lutam o capim é que sofre” – diz-se, mas acho que nos deveríamos envergonhar de vinte anos depois ainda pensarmos que a Renamo representa uma grande força militar, quando, à luz do AGP, se transformou em partido político.
Há, com insistência, um esforço de equiparar as forças de defesa e segurança a guerrilheiros da Renamo. Mais do que equiparação, os guerrilheiros da Renamo são apresentados como mais fortes do que a FIR, FADM e PRM juntos.
Em última análise, quer-se colocar Afonso Dhlakama acima de um presidente de partido político. Por quê?
Com o AGP, numa situação normal, teríamos um elefante, o Estado com as necessárias forças de defesa e segurança para se poder defender de elefantes externos e defender a soberania e os moçambicanos.
Gastou-se tanto dinheiro para desarmar a Renamo, debalde, porque manteve os seus guerrilheiros no activo e podem estar a receber dinheiro que o Estado dá à Renamo para o seu funcionamento normal, quando o dinheiro visa fins políticos e não militares.
Por outras palavras, o capim trabalha para alimentar um elefante que depois do AGP não deveria existir, mas não se apercebe disso e, por isso mesmo, esse capim contribui para a existência nociva desse paquiderme.
Já não deveríamos falar de dois elefantes em Moçambique e em vez de se dizer que as forças de defesa e segurança não devem desarmar com recurso à violência os guerrilheiros da Renamo, o razoável seria: a Renamo deve abandonar Sadjunjira e outras bases, por ser um partido político.
O que se reproduz é a exigência de Dhlakama de que as forças de defesa e segurança devem sair de Sadjunjira.
A Renamo deveria ser pressionada a sair de Sadjunjira e a fazer reivindicações em conformidade com as leis, tal como o Governo tem sido pressionado em outras matérias (de governação).
É que se torna paradoxal que se dê carta branca  à Renamo para matar, incluindo por alegadas provocações da Frelimo, quando, quanto a mim, Afonso Dhlakama não deveria criar condições para ser provocado.
Por fim, a pergunta: afinal quem o culpado do estágio actual de tensão em Moçambique, a tensão provocada pela Renamo? Se pensarmos no facto de ao longo do tempo se ter tolerado a existência de uma força residual em nome de guarda presidencial que, como se pode ver, não era para a segurança de Afonso Dhlakama, mas sim um força através da qual a Renamo se serve para se furtar à convivência democrática, quem foi? Será que o discurso do capim mudou em relação aos homens da Renamo?

E depois, a imagem de Afonso Dhlakama, aparentemente, depende da vontade de sectores de imprensa, com todo o respeito, que podem-no apresentar hoje como ditador e arrogante com uma longa lista de vítimas, mas, amanhã, de vilão passar para o homem cheio de razão. Seria bom que alguns jornalistas fossem folhear o que escreveram em 2008 acerca de Dhlakama, os adjectivos que usaram para qualificá-lo. 

Um comentário:

  1. Primeiro, apraz-me o facto de puder aprender com os mais velhos, experientes e compreendidos na matéria da nossa moçambicanidade, como é no caso do Srº blogueiro, decano jornalista, Francísco Muianga.

    Bom, estamos diante duma realidade nossa como moçambicanos, e, segundo a conhecida frase de "as soluções locais para os problemas locais", todo moçambicano deve fazer a sua parte na resolução do diferendo politico nacional que ameaça a vida de cada um de nós.

    O desarmamento da RENAMO é inerente e urgente. Porém, com a base da historia deste partido politico-militar, do também auto-proclamado o maior politico-militar do mundo, desde do AGP até os dias que correm, o urgente não trará resultados duradoiros pois a sua execução seria a correiras. Portanto, a quem que é de direito, urge traçar e implementar, com toda cautela, um plano de longo prazo que consiste, exclusivamente, desarmar esta arvore militar extra-governamental do cimo até as raízes.

    O urgente, hoje, é as ambas partes, que se encontram em diálogo, se abrirem para estancarem este barulho da Lei Eleitoral que, visivelmente, ceifou as vidas e, consequentemente, semeou sofrimentos e eternos rancores em tantas famílias moçambicanas.

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