domingo, 23 de março de 2014

Pranto do candidato a edil

Admira-me a facilidade com que as mulheres choraram e se calam. Percebo, porém, que no contexto da socialização, os homens manifestem uma certa resistência ao choro, evitando a todo o custo deitar lágrimas. Mas choram. 
O número de homens que choram começa a crescer. Fazem-no por emoção. Logicamente que as mulheres também vertam lágrimas por comoção, outras vezes porque sentem dor física. E os homens podem igualmente experimentar as mesmas sensações. 
Da PIDE, conta-se que as lágrimas dos homens não eram bastantes para o agente concluir que a sua vítima de tortura sentia dor. A isso tinha que acrescentar o grito que caracteriza o preto: “Yó mamanôooo!” 
Sem esse grito, o agente de PIDE não se sentia realizado na sua tortura. Batia cada vez mais. 
Sinto pena sempre, em especial, das mulheres acusadas de chorar lágrimas de crocodilo. Elas acabam carregado essa desconfiança quando se pensa que o seu relacionamento com o finado não inspirava amor e, por isso, a emoção não é verdadeira, não passa de fingimento. 
Mas quem é capaz de saber se choram a sério ou fingem? Por isso sinto pena delas. Sempre num dilema: se não chorarem, diz-se que “era de esperar!...”, porém, quando rola no seu rosto o fluido lacrimal, enquanto está formada a ideia de que não nutriam sentimentos de amor pelo ente cujo desaparecimento choram, são as tais lágrimas de crocodilo. 
E quem já questionou aos homens que choram, se também não deitam lágrimas de crocodilo? É este o problema da socialização. 
E lembro de um caso de mortes violentas em que um dos homicidas esteve no funeral da sua vítima, antes de ser preso, julgado e condenado, a dizer às pessoas próximas: “Os gajos que praticaram o crime são corajosos, verdadeiros assassinos!...” 
Quais gajos? Era um deles, bastante corajoso, de facto, e se tivesse chorado, ficaria bem a afirmação de que chorava lágrimas de crocodilo. 
As mais recentes lágrimas que vi num rosto, com grande surpresa, foram do antigo deputado da coligação Renamo-União Eleitoral, Manuel de Araújo. Não compreendi muito bem o que o levava ao pranto, porque acompanhei a entrevista televisiva a meio. 
O choro chamou-me a atenção, na verdade, porque surpreendente. Tinha acompanhado algumas poucas intervenções dele no parlamento e a última vez que estive em Quelimane, por coincidência, veio juntar-se a um grupo de jornalistas – conhecia alguns – numa explanada e conversou-se bastante. 
Com sinceridade, mal conheço o ora candidato ao cargo de presidente do Conselho Municipal de Quelimane, porque o tempo em que estive com ele no meio de colegas de profissão foi muito pouco. 
Se calhar, por isso, veja que as lágrimas dele na semana passada foram a valer. E se, de facto, lubrificam, os seus olhos beneficiaram dessa função. 
Esperei, em vão, que a entrevista fosse retransmitida ou, se isso tiver acontecido, na acertei nas horas em que aconteceu. Tinha interesse porque foi pouco o que percebi, metendo nomes de Bonifácio Gruveta, Samora Machel, treinos na Argélia ou outro lugar, orgulho quelimanense ferido e, se ferido, caso não tenha compreendido mal, a necessidade de resgatar esse orgulho. 
O que tenho a certeza é que o candidato chorou. Também, porque li, que pretende acabar com piscinas municipais nas estradas de Quelimane e facilitar o acesso à terra. E isto me faz alguma confusão: é que o partido que candidata Manuel de Araújo declarou publicamente que estava contra os pedidos de demissão quer de Pio Matos quer dos de Cuamba e Pemba. Via nisso traição. 
Essa palavra traição aos munícipes também ouvi nas últimas presidenciais – mudaram os actores (traidores dos munícipes) muito cedo! Dir-me-ão que política é assim, incluindo discursos da ocasião, denotando ou denunciando incoerência: “Os políticos não são sérios!” 
Se Manuel de Araújo, o candidato a edil, cita os exemplos das piscinas municipais e acesso à terra, é suposto que,pelo menos, duas razões poderiam levar Pio Matos a demitir-se: as piscinas nas rodovias de Quelimane e acesso à terra, que não conseguia resolver a contento – acreditando que De Araújo tenha feito uma apreciação da situação real da cidade onde nasceu e vive ao tempo da gestão de Pio Matos. 
Quer dizer que eventualmente não estivesse a governar bem. E deve haver mais coisas que, infelizmente, poucos sabem, tendo em conta que a justificação dada por Matos e outros demissionários não parece convincente. O que alegaram para pedir a resignação cheira a algo menos elaborado. 
Mas, tirando isso e essa de dizer que foram pressionados a demitir-se pelo seu partido, mas este diz que não – porém, ninguém quer acreditar nesta organização em relação ao assunto, sobretudo porque os edis demissionários aparecem com justificações não plausíveis – penso que também está menos elaborada a afirmação de que, tendo sido eleitos, estariam a trair o eleitorado por abdicar do cargo. 
Estar-se-ia a dizer, com isso, que o eleitorado está satisfeito, no caso de Quelimane, com as piscinas e a questão de acesso à terra afirmada por Manuel de Araújo? A ser assim, o eleitorado, então, não quer o bem-estar e desenvolvimento. 
De Cuamba, sei pouco. Mas de Pemba, tenho conhecimento de problemas. É verdade que não disponho de elementos, resultantes de estudos, para chegar à conclusão de que Quelimane, Cuamba e Pemba estariam melhor ou pior nas mãos dos demissionários, procurando equipará-los a outros municípios de Moçambique com as mesmas características. É só isso que me impede de dizer que vale a pena ou não a resignação. 
Isso não afasta a ideia de que, por vontade própria ou não, quem não tenha um bom desempenho, eleito ou nomeado, possa demitir-se. Aliás, tenho ouvido organizações exigindo a cabeça deste ou daquele governante que se julga que não toma conta do recado. 
Qualquer governante num país como Moçambique, estável, sente-se na obrigação de usar o seu conhecimento e recursos para promover o bem-estar e desenvolvimento. Outra coisa não se espera dele. O que é isso de pedirmos a quem governa que se arraste no cargo até chegar o novo ano eleitoral? 
E começo a duvidar daquelas organizações que dizem que não participarão nas eleições intercalares de Dezembro: será apenas pelo que disseram, incluindo faltar pouco tempo para o fim dos mandatos, ou até há questões de organização e recursos materiais e financeiros indisponíveis? (X)

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