(Convite a debate sobre liberdade)
Diz-se,
melhor, publica um semanário, um dos mais antigos em Moçambique, a seguir ao Domingo, que Gilles Cistac apresenta queixa à Procuradoria
Geral da República (PGR), estando em causa escritos difamatórios publicados nas
redes sociais.
Se, de
facto, o faceboqueiro Calado
Calachinicov escreveu isso, de que Cistac obteve a nacionalidade moçambicana de
forma fraudulenta, meteu-se num grande milando,
deixando de lado a sua apreciação, opinativa, de que o constitucionalista
estaria “a fomentar a divisão do país para obter ganhos obscuros”.
Cito
excertos do artigo desse semanário:
“(…) os
escritos deste faceboqueiro
constituem um verdadeiro atentado à sua honra e ao seu bom nome pelo que, optou
por avançar pela via judicial para exigir a reposição de danos…
(…) as
acusações de Calachinicov constituem o ponto mais alto da intolerância bem como
da violação dos direitos fundamentais”.
Cistac é
citado a declarar que já sentiu sinais de intolerância política, académica e
até de racismo. Ele tudo isso ignorou, mas acha que já basta, quando aparecem
acusações de prática de actos criminosos e por isso diz: “Vou avançar com uma
queixa crime junto à Procuradoria”.
Esta queixa
de Gilles Cistac recorda-me o que se diz no caso do escrito do Nuno
Castel-Branco. Não faltaram artigos condenando o facto de a mesma PRG ter
intimado Castel Branco, defendendo-se que isso era contrário à liberdade de
expressão e de imprensa. Que tudo o que Branco tinha escrito fê-lo em pleno
gozo desses direitos previstos na Constituição da República.
Não será que
num caso, quando convém a determinados sectores, incluindo a imprensa, se
discutem as tais liberdades, mas noutro, não.
Lembro de um
agora deputado que chegou a falar de fascismo em Moçambique, ao atacar o mais
alto magistrado da Nação Moçambicana. Se tivesse sido intentada uma queixa
contra essa figura, o que teríamos ouvido é que há perseguição, intolerância,
coarctação da liberdade de expressão.
É amnésia? O
que nós, moçambicanos, prosseguimos? Não seria a hora de revermos a nossa
atitude para que não confundamos a opinião pública? Estaria Gilles Cistac a
intimidar o Calado Calachinicov ou não? A queixa seria manifestação de
tolerância ou não, analisando o caso e
relacionando-o com o de Nuno Castel-Branco, que também passou pelas mesmas
redes sociais?
II
E, mesmo
para misturar, do mesmo semanário leio que Munícipes da Beira “gazetam” comício
da Frelimo. Quem são os tais munícipes?
Até porque
essa é a parte menos pitoresca do artigo, pois a mais engraçada é a diz que
“(…) o partido Frelimo delegou aos chefes de quarteirão, membros dos grupos
dinamizadores e membros da Organização da Juventude Moçambicana (OJM) a missão
de se deslocarem aos bairros e apelar às comunidades para se fazerem
presentes”.
OJM? Ainda
pode ser verdade, mas os chefes de quarteirão e os grupos dinamizadores, se não
for ficção jornalística, não se podem ter envolvido nessa mobilização, porque a
sua existência está claramente ligada ao Conselho Municipal da Beira e, por
essa via, o mais provável é que estejam filiados no MDM e não na Frelimo. Até
os régulos estão ligados ao CMB e por essa via mais próximos do MDM, liderado
por Daviz Simango!
Não quero
acreditar que o CMB ou MDM tenha trabalhado a favor do adversário político, a
Frelimo. Deve ser peta e se fosse a reler Nós
Matamos o Cão Tinhoso, reproduziria que “é peta do Quim”.
O narrador nesse conto de Luís Bernardo Honwana diz:
“(…) O Quim disse-me também que as feridas do Cão-Tinhoso eram por causa da
guerra e da bomba atómica, mas isso é capaz de ser pêta. O Quim diz muitas coisas que a gente
nem pensa que podem não ser verdadeiras, porque quando ele as conta a gente
fica tudo de boca aberta. A malta gosta de ouvir o Quim a contar coisas de
outras terras e os filmes que vai ver lá em Lourenço Marques, no Scala, e as
coisas do El Índio Apache a jogar luta-livre e a fazer tourada, e aquilo que El
Índio Apache fez ao Zé Luís no Continental. O Quim diz que El Índio Apache só
não vai ao focinho ao Zé Luís porque não quer”.
Ou seja: a mentira se confunde com a verdade. E quer nas redes sociais quer
em outras ferramentas de comunicação anda muito Quim escondido, a contar coisas
ou escrevendo o que “gente nem pensa que podem não ser verdadeiras, porque
quando ele as conta a gente fica tudo de boca aberta”.
Não é de ficar de boca aberta quando se diz que a Beira tem chefes de
quarteirão e de grupos dinamizados afectos à Frelimo, que não conseguiram fazer
a Frelimo triunfar? Que coisas!
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