Ouço falar
alternadamente de arrogância e intransigência, quando se discute a realidade ou
actualidade política moçambicana, no caso das exigências, que as considero
eternas, da Renamo versus respostas do Governo.
Quem
considera outro arrogante ou intransigente, alguma vez fez introspecção,
para medir o alcance de qualquer uma destas duas palavras? Há sempre o risco de
se ser arrogante ou intransigente, quando se usa estes dois adjectivos para
qualificar o próximo.
Por isso
mesmo, considero a palavra arrogância, como arrogante à partida. Quem
toma o próximo como arrogante, pode ele mesmo ser arrogante sem se aperceber
disso.
Quais os mais
mediáticos "dossiers" políticos e sociais moçambicanos, excluindo os
económicos, que são mais recentes?
O primeiro,
que se eterniza, diz respeito à interpretação dos protocolos do Acordo Geral de
Paz, sobretudo, salvo outros entendimentos. É isso que está a criar muitos problemas e que permitiu à Renamo
até hoje manter uma força militar.
Acaso, a
Renamo aceitou ao longo deste tempo que passa se desfazer dos homens armados,
abandonar Marínguè e agora Vundúzi? Dir-se-ia que a Renamo é lúcida?
Como é que
hoje se pode dizer que o fulano é intransigente, quando, na verdade, este
assunto de desarmamento da Renamo remonta ao tempo em que nem estava nas mãos
dele o poder de decisão?
(E no
intervalo, ainda tivemos o "dossier" Magermane. Quem se lembra do ano
em que teve uma evolução mais ou menos positiva? E quem se recorda que o
assunto provocou pelo menos uma morte?)
Outro
importante "dossier" é o dos Desmobilizados de Guerra. Quando é que o
Estatuto do Combatente foi aprovado, cobrindo também ex-guerrilheiros da
Renamo, que durante anos estavam fora da possibilidade de receber pensões pagas
pelo Estado?
Hoje os
desmobilizados de guerra, de ambas as partes, reclamam melhores pensões, mas
antes nem sequer tinham adquirido esse direito. E quem não tiver memória curta,
saberá dos debates que houve na Assembleia da República até se aceitar a
inclusão dos ex-guerrilheiros.
E considero
correcto que os desmobilizados queiram o melhor possível, mas tendo em conta
que há alguns passos dados e que em Moçambique os salários não são de 20 mil
meticais nem 12. 500 meticais, estão muito abaixo disso.
Convenço-me,
em algum momento, que outra coisa se quer dizer, mas ocorre uma falha de
interpretação dos fenómenos. E acho curioso que se misturem outros assuntos
fora das reclamações da Renamo versus respostas do Governo, quando se tenta
provar a arrogância e intransigência.
Claro, não
pretendo dizer que esse arrogante ou intransigente não tenha responsabilidades,
mas provavelmente não seja tão arrogante ou intransigente como se pretende, se
olharmos para assuntos que outros (não arrogantes ou intransigentes)
deixaram, tendo sido depois resolvidos, ainda que não seja como seria de
desejar.
Até hoje não
me esqueço do dia do diálogo ocorrido na AR, em que as partes saíram do encontro,
um dizendo que o "País está doente" e outro,
considerando que quem estava doente era quem o dizia.
Enfim, parece
que, não se sabe bem os porquês, os moçambicanos estão cultivando o hábito de
discutir pessoas e não ideias. Isso me deixa assustado, porque estimula a
desordem, pode levar determinadas forças a matar, convencidas de que alguém
depois interprete isso como consequência da arrogância do fulano.
O medo de
morrermos na estrada, como aconteceu em Muxúnguè, resulta, em parte,
da interpretação do AGP. O pacote eleitoral foi aparecendo para aumentar
as discussões, mas antes muitos incidentes ocorreram devido à existência de uma
força que deveria ter sido desarmada.
E nisso de
eleições, a Renamo nunca as aceitou como justas, livres e transparentes, como
razão ou sem razão, desde 1994.
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