Sexta-feira, dia
4 de Outubro de 2013, 21º aniversário do Acordo Geral de Paz. Trabalhava.
Outros também desenvolviam as suas actividades, incluindo as de abstracção
sobre a paz, com recurso às televisões, esse meio de massas usado até para
manipulação das próprias massas.
Concentrei-me,
durante os intervalos. Fiquei atento, a ouvir um dos grupos, dada a actualidade
do tema paz, sugerida pelas rondas do diálogo Governo-Renamo e ataques ocorridos
em Muxúnguè e Savane, em Sofala, vivos na (nossa) memória.
Nunca considero
perda de tempo, seja qual for a discussão, sendo interveniente directo ou não.
Mas, no caso questionava-me: Será que se está no âmago da paz, como questão de
momento?
Ouvi as teorias
possíveis e imaginárias sobre o que era a paz, todas válidas, desde a que
começa em casa, em cada família ou homem e mulher, a paz interior ou espiritual
e, para não variar, pobreza, distribuição da riqueza, direitos humanos,
juventude ou jovens e por aí fora. As capacidades de abstracção de cada um dos
tantos intervenientes não poderiam ter passado despercebidas!
Questionava-me
novamente: Com tantos conceitos, definições ou formulações sobre a paz, aonde
se pretende chegar? Fiquei com medo, devido à incerteza, suspeitando ser
possível tornar a paz algo inatingível.
O que é a paz?
Por que não se pode discuti-la na actualidade, usando as referências vivas,
como, por exemplo, os casos Muxúnguè e Savane, relacionando-os com Sadjunjira
ou Marínguè?
Para mim a paz,
antes das mais credíveis análises ou especulações, é ameaçada pela violência
ocorrida e latente, e daí a urgência da busca de soluções para que isso não se repita.
Sempre essa intranquilidade, específica, está associada à existência de uma
força residual vista, por conveniência (de alguns) durante os 21 anos do AGP,
como inofensiva, apesar de desordens registadas através da imprensa, umas menos
ou mais graves que outras.
Pensando assim,
a paz poderia de forma privilegiada ser discutida como o único dinheiro que
cada um tem para sobreviver e caso seja gasto em despesas fúteis, o risco é de
vida – ou para a obtenção de alimentos, não havendo dinheiro porque gasto em
coisas menos primárias, o recurso seria o cometimento de crimes. Aí, vi a paz atingível,
algo concreto, o substrato da existência colectiva.
Quer dizer,
essas abstracções feitas em diferentes ocasiões ou fóruns são muito
importantes. Mas, acima de tudo, parece urgente discutir a paz num contexto de
existência de ameaças, fazendo a gradação do problemas a solucionar, partindo
do primeiro, seja na escala de cinco, dez ou vinte.
Quando me refiro
à escala, sugiro a identificação do problema número um, depois dois, três,
quatro e cinco, na escala de cinco. Obviamente se numero os problemas, tenho
intenção. Mas a minha gradação não deve ir da questão menos preocupante para a
mais no conjunto das inquietações.
Dou um exemplo:
a que se deve o actual diálogo? Se, por um lado, é verdade que sempre houve
diálogo, por outro, o ainda em curso partiu de uma situação gravíssima,
testemunhada por escoltas para garantir a segurança de pessoas e bens no troço
Muxúnguè-Save da N1.
Logo: o problema
paz passa por remover o obstáculo em relação ao qual ninguém contabilizou os
prejuízos acumulados, incluindo casos de famílias obrigadas a pernoitar com
urnas em transladação, porque a circulação de viaturas não pode continuar por
razões de segurança, sendo interrompida no Save ou em Muxúnguè.
A formulação de
premissas para a consumação (conclusão) dos ataques, na discussão sobre a paz,
nunca deve ser ignorada. Em palavras simples: as ameaças e ataques a alvos
civis e outros na N1e em Savane foram possíveis porque existe um grupo armado.
Este é o aspecto primário, antes de se pensar na paridade, distribuição justa
de riqueza, que são problemas reais a serem, em devido tempo, resolvidos.
As abstracções
que se fazem adensam mais do que desanuviam o ambiente político. Se alguém olha
para a força da Renamo como um simples instrumento de pressão sobre o Governo,
minimiza o problema, que não é resolvido desde pouco depois da assinatura do
AGP, em 1992.
O dia 4 era um
dia especial para se sugerir como eliminar esse suposto instrumento de pressão.
O diálogo pode resolver várias coisas, mas se a referida força não for
reencaminhada para outras tarefas, nos próximos anos continuaremos a ter o
mesmo problema. Sublinho: se houve ataques, estes foram viabilizadas pela
existência de homens armados, com essa capacidade.
Pensemos que o
AGP foi assinado há 21 anos. Se visava pôr fim à guerra, como o principal
problema para a maioria dos moçambicanos, como se explica hoje nova ameaça de
conflito? Mais do que outras teorias, vinga o de homens preparados para isso,
poucos ou muitos, não interessa, mais capazes ou menos capazes, também é uma
questão secundária.
Não saltemos
para a descoberta dos recursos minerais, contornando Marínguè e Sadjunjira. Esse
(descoberta de recursos minerais) e outros problemas, embora seja necessários
discuti-los, não são a essência da razão de ser, até, das actuais abstracções.
E não as fazemos nas mesmas condições da Grécia antiga, porque temos questões
básicas por resolver.
Receio que nos
especializemos em reflexões, deixando para trás o concreto. Mais tarde podemos
sofrer um grande recuo, pois em plena implementação dos projectos resultantes
da descoberta dos recursos minerais, seremos surpreendidos com a existência de
um grupo disposto a destruir tudo, a fazer nova guerra, porque simplesmente foi
visto como uma força/instrumento de pressão para reivindicação da paridade nos
órgãos eleitorais.
Em 21 anos, a
Renamo nunca tinha feito ou reivindicado emboscadas na N1. Envolveu-se em
outros actos de violência, até mais graves, mas as suas ameaças de paralisar o
país ou dividi-lo não incluíam atirar contra alvos civis e militares ou
paramilitares, com seu líder a confirmar ter deliberadamente dado ordens nesse
sentido. E passam 21 anos da assinatura do AGP! (X)
Sim, sim, exactamente!
ResponderExcluirCorroboro, e deixo a minha assinatura.