Quem tem
medo de Gustavo Maviel?*
Mavie é livre de falar como quiser. De escrever também. O
texto do confrade Marcelo Mosse, na sua Carta de Moçambique, parece ser o que
ele nega a Gustavo Mavie. Não precisamos de concórdia: chama-se a tudo isso,
pluralidade de ideias.
Se Marcelo Mosse opinar como Mavie, então não se saberá
distinguir quem é Marcelo quem é Gustavo. Não se pode ter medo de academias.
Esse medo de criticar, que se calhar não seria do que Mavie pratica em relação
à Frelimo, levou a duas coisas:
I)O Ministério da Saúde proibiu, inicialmente, que
usássemos máscaras, dizendo que só deveriam usa-las os médicos e pessoas
doentes, e não nos deu alternativa, porque somente aceitava as recomendações da
OMS, sem procurar uma saída para a prevenção da doença do coronavírus senão a
lavagem das mãos, distanciamento social (mais tarde foram aceites máscaras de
pano, que já estavam a ser usadas em Angola);
II) O MISAU deixou que fossem implantados túneis de
desinfecção e tardiamente veio dizer que são inúteis e, mais do que isso,
constituem um risco à saúde humana.
Tudo isso, aceitámos
porque temos medo do que se fala em nome da ciência. Pensa-se que os
cientistas, incluindo os sociais, não falham, são o nosso Deus na terra, o que
não é verdade.
Em Portugal, não passam muitos dias, foram tornados
públicos falsos casos positivos para a Covid-19. O alarme já soava.
Corrigiu-se. Quer dizer, os testes laboratoriais podem falhar, o mesmo que
dizer que os cientistas falham. A diferença é que as suas falhas nem sempre são
públicas.
Se cada um fizer
as críticas no que lhe parece, num determinado campo, seja político seja
socioeconómico, e outros fazem-no em relação ao lúdico, cultura e outras
coisas, Moçambique é que ficará a ganhar.
Deixem-no ser como ele é: Luck Dube disse que se não tem
nada a dizer de bom acerca de alguém, o melhor é permanecer calado ( Shut Up).
Qual é o problema de Mavie criticar os que critica (?),
qual é o problema de Marcelo Mosse criticar os que critica (?).
Cada um tem as suas formas de viver os problemas na
sociedade moçambicana: há quem considere Afonso Dhlakama um herói, mas outros
consideram-no Homem da Guerra. Podemos discutir isso sem amarras.
Há quem queira Gustavo Mavie calado, para passear a sua
classe. A discussão é indispensável até para o crescimento intelectual.
Há quem considere as Universidades Moçambicanas um grande
Dumba Nengue; outros, que saem dessas
universidades, aplaudem sem crítica essa maninha de sempre tabelar por baixo,
esquecendo-se que a expansão do ensino até à sua consolidação revelará
fraquezas e só a entrega dos professores e estudantes podem minorar esse
problema.
Gostaria de repetir, para os que me acompanham há anos, e
aos que por acaso vão ler este texto, o seguinte:
“Em 1965, foi inaugurada uma universidade em Lourenço
Marques (…). No programa de ensino deste estabelecimento foram incluídas
unicamente faculdades de ciências sendo as letras e as humanistas (SIC)
totalmente desconhecidas.
No ano lectivo de 1966 ela foi frequentada por 403
alunos, sendo em seis o número de estudantes africanos, dois dos quais
estrangeiros.
Um facto digno de notar é que os filhos dos portugueses
muito abastados não são enviados para esta Universidade. Eles continuam a
frequentar as universidades em Portugal e na África do Sul. A razão que os leva
para lá são as seguintes.
1.O diploma da faculdade de Lourenço Marques não é
reconhecida em Portugal.
2.No caso de concorrência a um quadro, o «formado» em
Portugal tem sempre maior preferência. (o mesmo é o caso dos quadros formados
nas universidades da África do Sul);
3.A falta de faculdades, de modo que o aluno possa
escolher o curso em que estiver interessado.
4.O baixo nível do corpo docente”.
Os excertos podem ser consultados no livro de eli j.
e.mar, cujo título é “Exploração portuguesa em Moçambique, 1500-1973), na
página 194.
Seria admirável que a Universidade Eduardo Mondlane fosse
uma ou a mais robusta de Moçambique? Não. Logo: quando debates vários assuntos,
temos que buscar premissas verdadeiras. Não basta que um académico reconhecido
seja onde for, fora de Moçambique, diga umas coisas, para nós aceitarmos sem
nenhuma reflexão.
Dei o exemplo do MISAU.
Creio que se começarmos a discutir determinadas coisas,
vamos melhorar a nossa vida e até dendefer a nossa saúde.
Mais, voltando à vaca fria, os que combatem Gustavo Mavie
usam as armas que eles acham que não são as melhores – atacam Mavie, mas eles
dizem que Mavie é que tem o hábito de atacar a todos que criticam o regime.
Mavie acabou sendo mais importante do que me parecia,
pelo facto de o seu nome ter chegado à Assembleia da República. Lembraria o
Rogério Dinis, o MC Roger a cantar: «Falem bem ou mal de mim, mas falem de mim».
Deve ser esse o sentimento de Mavie por estas alturas: virou tema de discussão!
NB: Não postava nada, faz algum tempo. Claro que continuo a escrever na minha coluna "FONTE", que sai à quarta-feira no Diário de Moçambique. Senti que vale a pena alargar o debate, porque se pensarmos que Mavie não tolera os outros, do que tenho estado a ler, a intolerância evidencia-se também entre os que o criticam, pelas palavras que usam e pelo sentimento de que, por emitir opiniões diferentes das deles, chegou a hora de pagar por ESSA OUSADIA, de pisar em terrenos "proibidos", na Assembleia da República. Nunca percebi que a crítica fosse vista como escrutinar porque a pessoa criticar pode-se defender ou o seu círculo está livre de o defender.